domingo, 12 de julho de 2015

Iker vem para jogar. E tu, Helton? Ficas a tocar guitarra?

Quando começaram os rumores de que Iker Casillas podia trocar Madrid pelo Porto, confesso que pensei: "mais vale mudarem o nome do clube para Lar de Idosos das Antas". Contratar um guarda-redes com 34 anos é uma jogada arriscada. Há demasiados remendos nos joelhos, há reflexos mais lentos, há - no caso de Casillas - o peso de muitas polémicas no Real Madrid. 

Iker não tem 20 e poucos anos como a maioria dos jogadores que o FC Porto costuma ir buscar. Iker não é um desconhecido que chega anónimo por meia dúzia de tostões e sai das Antas com nome feito e a lucrar milhões. Iker é sinónimo de campeão do mundo. Não usa fralda nem mama no biberão. Não precisa de dar a mão para atravessar a rua. Não precisa ter o nome nas costas para que saibam o nome dele. Iker Casillas não é um menino, mas é o ídolo de muitos em Espanha. Foram 25 anos a defender a baliza do Real Madrid, desde os nove anos de idade. Ganhou tudo que havia para ganhar. Hoje emocionou-se e chorou na conferência de imprensa de despedida do clube espanhol. Sozinho.

O que menos me importa nesta história é saber se a Sara Carbonero pega no conjunto de malas Louis Vuitton e segue a galinha dos ovos de ouro até à Invicta. Por qué no te callas? Não, o Porto não é Madrid, Sara. O Porto é diferente. Na Invicta arregaçamos as mangas e trabalhamos muito. Não há tempo para siestas nem paciência para aturar meninas bonitas mimadas. Aqui, quando alguém se arma em vedeta, a malta pega em pás e picaretas e manda-os trabalhar. No Porto não temos tapas na mesa, mas damos tapas na cara. Fica em Madrid, Sara. Não é o Porto que não está à tua altura. És tu que não estás à altura do Porto. Também não temos paciência para aturar mães que insultam o novo patrão do filho, mesmo sabendo que o anterior já não o queria e tudo fez para se livrar dele. Iker Casillas está rodeado de gente ingrata e, ainda assim, mostrou gratidão na partida prometendo gritar 'Hala Madrid' em Portugal como em Espanha. É preciso ser homem.

Agora que está tudo azul no branco e que o Estádio do Dragão é de certeza a nova casa do portero espanhol, arrependo-me de ter pensado que Iker Casillas é velho. É maduro, tem marcas do tempo, passeia experiência e tem ainda muito para dar ao futebol. E se quem sabe nunca esquece, estou certa de que irá desviar para fora os ataques dos rivais do seu novo clube. Aqueles, de memórias curtas, que agora gozam com a sua contratação. É que "de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos" e tão infeliz que foi a união de um também guarda-redes espanhol com outro clube português que não o FC Porto. Roberto não deixou saudades por cá. Já Helton vai de certeza deixar, se for atirado para o banco, ainda que as últimas épocas não tenham sido felizes para o jogador brasileiro. Há poucos dias (ou)vi o guarda-redes portista dar música à Afurada, ao lado de Gabriel o Pensador. Em palco, Helton fala mais do que canta. "Vamo tirar uma serfie?" (dito assim mesmo), perguntou várias vezes ao público. Brinca muito o brasileiro. E agora tem também mais meninos para brincar e jogar à bola no recreio do Dragão. Iker vem para jogar. E tu, Helton? Ficas a tocar guitarra?

terça-feira, 31 de março de 2015

Pinto da Costa não está xexé

Afinal, Pinto da Costa não está xexé. Se na semana passada havia dúvidas, depois de o presidente portista ter aparecido numa fotografia ao lado do neto Nuno em estilo rapper, ontem Pinto da Costa mostrou que ainda manda no gang azul e branco. Se na semana passada o líder dos dragões foi avô e desesperou portistas pelas 'figuras' que fez - e deliciou benfiquistas e sportinguistas que de imediato pensaram que Pinto da Costa estava, finalmente, lelé das ideias - ontem o presidente foi, uma vez mais, um homem de família e passou a mensagem de que ainda é ele que manda no Dragão.
Quem ontem deu uma entrevista à televisão do clube foi na realidade Julen Lopetegui, mas o discurso certinho e ensaiado não é do treinador. O espanhol deu a cara e a voz, mas as palavras e a mensagem vieram de cima. Na realidade, foi Pinto da Costa quem disse aos adeptos para acreditarem no título até ao fim e que da força deles precisam para se levantarem depois de terem tropeçado nos próprios pés na Madeira. Foi Pinto da Costa que defendeu o cigano e revelou o orgulho que sente num Quaresma cada vez mais completo e jogador de equipa. Foi também Pinto da Costa que avisou os árbitros que não podem decidir jogos e campeonatos e que falou em erros graves. Da cabeça de Lopetegui creio que as únicas respostas foram só mesmo as que deu à (sempre) tão falada questão da rotatividade de jogadores, defendendo-se - e aqui sim, na primeira pessoa - com o facto de o FC Porto estar ainda em mais do que uma frente, especialmente na Champions.
Pinto da Costa já não vai para novo. Os portistas temem o futuro e estão carecas de saber que dificilmente o clube voltará a ter um presidente assim. Mas a verdade é que, aos 77 anos de idade, Jorge Nuno continua a fazer o que quer. Sem ter medo de parecer gagá. "Largos Dias Têm 100 Anos". Cancelem o internamento na ala de psiquiatria do Magalhães de Lemos. O Rei está vivo. De vez em quando anda nu. Mas está vivo.





sexta-feira, 13 de março de 2015

Olá, o meu nome é Raquel e sou viciada em futebol

Lotação esgotada amanhã na Luz para receber o Braga. "É o poder do Benfica. Não há muitos clubes que consigam encher o estádio como o Benfica faz", diz Jorge Jesus. Se calhar o facto de a Primavera andar no ar, de o jogo ser num sábado às 17h e de os encarnados estarem em primeiro lugar na Liga também ajuda. Digo eu. Pode muito bem ser "o poder do Benfica". Não duvido. Mas é, sobretudo, o poder do futebol. O poder que leva alguém a um estádio para ver 22 homens a correr atrás de uma bola. Que leva alguém a vibrar, a enervar-se, a sofrer, a rir, a festejar, a chorar com os resultados. Que leva alguém a sair de casa, muitas vezes à noite - porque a transmissão televisiva assim o obriga - ao frio, à chuva. O poder que leva alguém a temer o pior e a desejar o melhor quando um daqueles homens cai em campo, inanimado, como aconteceu na última terça-feira com o Danilo no Dragão. Como se de um familiar se tratasse, o adepto sofre, chora, (des)espera por boas notícias, reza. 
Os estádios não andam cheios em Portugal. Na I Liga não andam. Seja porque o bilhete é caro, porque no fim ganham sempre os mesmos, porque a equipa não cativa, porque os resultados não entusiasmam, porque o jogo até dá na televisão. Na maioria das vezes as bancadas não estão repletas. Mas quando o estádio enche há magia no ar. Uma magia que se vê e que se sente. Esta semana vi (e senti) duas vezes essa magia. No Porto-Basileia, vi um Dragão cheio a vibrar (ainda) com o hino da Champions, com golos de outro mundo que fizeram levantar o estádio. Antes disso, num Varzim-Famalicão, recordei-me do verdadeiro significado do futebol: alma. 
Na Póvoa, recuei no tempo e vi garra, vi amor, vi paixão, vi raiva, vi ânimo, vi alegria. É certo que tudo isto também há na I Liga. Mas os jogadores estão 'longe' das bancadas e não sentem o adepto anónimo, só ouvem as claques. Há futebol além da I Liga. E, a dois metros do relvado, vemos avós equipadas a rigor que gritam e dizem palavrões que nunca ouvimos na vida, que "já entraram em campo para dar no focinho a um árbitro". De manhã foram à missa e à tarde vão à bola, que os maridos já se foram ou nunca chegaram e o casamento com o futebol é até que a morte os separe. "Até debaixo da terra". A um metro dos suplentes que fazem o aquecimento, vemos homens de muletas que, num lance mais controverso, se esquecem do pé partido e erguem a dita cuja em jeito de ameaça. Vemos bebés a gatinhar no cimento, vemos as 'tias' da terra nos camarotes do sítio, todas emperiquitadas, vemos putos vidrados no jogo e a sonhar estar do lado de lá um dia. Numa divisão que não a primeira, vemos mas, sobretudo, ouvimos. Aqui não há silêncios nem ninguém sai 10 minutos antes do jogo acabar para não apanhar trânsito. Aqui grita-se tanto que se ouve na freguesia vizinha, protesta-se, entra-se - literalmente - em campo. "A moina não manda aqui" e nem a autoridade os impede de descer das bancadas, num efeito 'arrastão', e de só parar no relvado. 
Futebol é mesmo alma. É acompanhar a equipa em casa e fora, mesmo sem ser da claque. É ter a coragem de aparecer mesmo quando os pontos não aumentam na tabela. É praguejar, barafustar, acreditar. É calor quando está frio, é tradição, é História. Futebol é ir com a família inteira ao estádio - vai o avô, a avó, o marido, a mulher e até a filha, de caderno na mão a fazer o TPC no intervalo - e só não vai o cão, o gato e o periquito porque não calha. Futebol é ter uma mão no ar e outra na bifana, com a gordura a escorrer e a sujar o fato-de-treino tactel. Futebol é Património, é herança que se passa aos filhos. E, por isso, adianto serviço e deixo já aqui escrito, neste testamento, para alguém ler no dia em que deixar de jogar neste campeonato: a quem me amou, deixo a paixão pelo futebol, deixo a alegria de gritar golo, de me agarrar às redes, deixo a dor de chorar e lamentar o acaso, a sorte de festejar campeonatos nacionais, taças UEFA e Liga dos Campeões, de conhecer estádios cá dentro e fora de portas. Deixo um amor que nunca corre o risco de ser ameaçado por um amante, deixo a raça, deixo a atitude, deixo as borboletas na barriga em dias de jogo grande, mesmo quando o jogo é entre pequenos. Deixo o olhar de menina que, armada em rapaz, aproveitava os 'feriados' e os intervalos na escola para, também ela, correr atrás de uma bola e ser feliz. Deixo parte de mim. 



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

De Lisboa com amor

Lisboa trata-me (sempre) bem. Nas vésperas de um FC Porto-Sporting, a rivalidade no futebol não se confunde com um Porto-Lisboa e os mouros estendem a passadeira vermelha à tripeira. Abraços apertados e demorados, almoços bem dispostos e bem regados, troca de galhardetes e piadas, cafés gloriosos e revigorantes com vista para o Estádio da Luz. 
Lá no Porto, 'eles' só querem ver Lisboa a arder. E a Capital, por estes dias, não me desilude e lá vai ardendo, enquanto se driblam as saudades e se mantém a chama acesa entre a terra do Dragão e a Segunda Circular. Só eu sei por que não fiquei em casa. E enquanto o Sporting acorda depois do adeus à Europa, eu passo o(s) dia(s) a dizer 'olá' e a piscar o olho a Lisboa. Pelo menos hoje e amanhã não somos rivais e há muito amor (no ar) e sotaques para dividir até domingo. Num claro empate que sabe a vitória, sem árbitro e sem intervalo. 
E depois lá entramos em campo, com rugidos de Lisboa de um lado e super dragões 'com o Porto até ao fim' do outro, com picardias, com emblemas diferentes no coração e com amores - aí sim - à parte. Um clássico. Mas enquanto não se ouve o apito inicial do Artur Soares Dias, deixem-me saltar com os lampiões, 'partir tudo' na Capital e dizer que 'tripeira eu sou', mas que esta cidade belíssima e esta rivalidade (Porto-Lisboa) fantástica me fazem sempre querer voltar cada vez que daqui parto. La La La La La La La...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Vieira não < 3 o Bruno

Não tenho namorado. Hoje, não tenho namorado. Hoje, não vou desfilar no shopping de mãos dadas. Hoje, não vou publicar fotos do almoço ou do jantar romântico do Dia dos Namorados nas redes sociais. Hoje, não vou alinhar na histeria do 50 Sombras de Grey. Hoje, não vou fingir que o amor é fácil e que todos os dias são incríveis. Hoje, não vou comprar uma prenda estupidamente cara para mostrar à minha cara-metade (e ao mundo) o quanto gosto dela. 
Não me interpretem mal: sou pelo amor! Mas para mim o amor está nos restantes dias do ano. Está em cada vez que corro junto ao mar e sinto o vento frio na cara. Está em cada vez que um desconhecido sorri para mim, no trânsito, quando me vê a cantar (e a fazer coreografias) ao volante. Está em todas as vezes que ouço alguém dizer-me "gosto muito de ti". Está em cada vez que grito 'golo' tão alto e com tanta força que fico rouca. Está em cada vez que choro de felicidade. Está em cada vez que revejo o Top Gun, pela enésima vez. Para mim, o amor está em minha casa, quando, todas as noites, vejo os meus pais - casados há 40 anos - adormecerem abraçados. 
Na vida e no amor, reconheço as vitórias porque já sofri (com as) derrotas. Quem diz que nunca sofreu por amor ou é mentiroso ou é parvo. Quem diz que nunca sofreu por amor é certinho que nunca amou. E - que me perdoe Camões - amor é fogo que quando arde, vê-se; é uma ferida que dói e que se sente. Ainda não sei o que é o amor de mãe. Mas sei bem o que é o amor de filha e de irmã. E sei que, por eles, tiro a minha camisola. Pelo Alexandre, pela Lucinda e pela Cláudia viro-me do avesso e faço o que posso e o que não devo. Quebro regras, ultrapasso pela direita, não dou pisca nem peço licença para passar à frente. Discuto, berro, digo o que quero e o que penso, muitas vezes consciente de que entro ainda mais de carrinho do que o Paulinho Santos entrava em campo. Para mim, amar é ser verdadeiro. Dói e sente-se, Camões. O resto é fogo de vista, é um passatempo (alguns duram até uma vida inteira), é esperar que a nossa chamada seja "atendida tão breve quanto possível". E quem, antes de morrer, quiser dizer que viveu - que realmente viveu - mantém-se em linha e não desliga o telefone. Até alguém do lado de lá nos atender.
No amor e na guerra vale tudo. Diz o povo e diz o Luís Filipe Vieira, que não está para amar e arrasa Bruno de Carvalho cada vez que abre a boca. Para o presidente do Benfica não há cá Dia dos Namorados. O anti-amor dos dois clubes da Segunda Circular não é de hoje e, sejamos realistas, nunca terá fim. Vieira e Bruno não passeiam de mãos dadas no Colombo nem no Alvaláxia, um com a mão no bolso traseiro das calças do outro. Vieira e Bruno não trocam juras de amor eterno. Não mandam sms com '<3'. Não aparecem um à porta do outro, a meio da noite, só de gabardine e uma lingerie sexy. Vieira e Bruno não mandam flores um ao outro. Não dão beijos de língua, mas passam a vida no bate-boca. Trocam críticas, ofendem-se, metem o dedo na ferida, vão às pernas e querem lá saber da bola. É só jajão. E se não há respeito não é amor. Mas que ali há tesão, paixão, fogo, faísca...há! 
Em campo ou fora dele, Benfica e Sporting querem - hoje e sempre - comer-se um ao outro (pardon my french). E se todos os clubes andassem enamorados uns pelos outros, não havia competição, só havia jogos amigáveis. O futebol (e tudo à volta) não precisa (nem deve) ser violento nem hardcore. Nem precisa ter very-lights a arder nas bancadas para mostrar que ferve. Mas um campeonato digno desse nome tem que suar a camisola, tem que dar pica e manter a chama acesa. A esta hora, repito, o Vieira e o Bruno não estão a fazer o amor. Nem estarão amanhã, nem depois. Há ódios que só se resolvem de uma maneira, num sítio. E não é nas primeiras páginas dos jornais ou no Facebook. Pelo menos hoje, nesta data especial, arranjem um quarto e façam as pazes.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Chorões 1 - 1 Mijões

Lembrei-me dos bonecos de borracha que simulam comportamentos de bebés mal se ouviu o apito final em Alvalade. O Sporting já cantava vitória e acabou o jogo a chorar com o empate e o Benfica foi 'mijão' e marcou já nos descontos. 
Fora do relvado, nas redes sociais, todos gritam: os sportinguistas dizem que mereciam a vitória, os benfiquistas recordam que continuam à frente na tabela e até os portistas arrotam (de satisfeitos) e batem palminhas. Na verdade querem é todos colinho, mas no fim só ganha quem papar mais pontos. 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Até nem tinha pensado comer cachupa, mas assim que ouvi falar deste pitéu...

Ontem à noite quando saí do trabalho - como vos disse aqui - fui ao supermercado. Pelo caminho deu-me um desejo incontrolável de comer cachupa. Como sabem, na minha lista de compras não tinha frango, pé de porco, chouriço, farinheira, toucinho, morcela, milho ou qualquer outro ingrediente necessário para preparar esta iguaria de Cabo Verde. Eu até estava a pensar jantar salmão fumado salteado com grelos, que é mais levezinho para a noite, mas, durante a tarde, no trabalho, ouvi alguém falar de cachupa e fiquei com água na boca. 
Entro no supermercado, já tarde, quase a fechar. Quando chega a minha vez na charcutaria, reparo que já só há um chouriço, mas também é mesmo só um que a receita leva. Peço o enchido ao senhor do talho e este, muito atrapalhado, diz que o chouriço já está prometido a outro cliente, que pediu para o reservar e que "devia estar mesmo a chegar para o levar". Claro está que argumentei com o senhor do talho, explicando-lhe que se o chouriço ainda estava na montra podia ser levado por qualquer cliente, e que dali não abalava sem ele. A muito custo, o homem lá embalou o enchido e vim para casa fazer cachupa. E que bem me soube!
Depois do jantar, já passava da meia-noite - e enquanto fazia a digestão - fui ver como tinha fechado o mercado de transferências de jogadores. E pelos vistos, tal como vos disse antes de ir às compras, o FC Porto foi mesmo buscar o cabo-verdiano Hernâni ao Vitória de Guimarães, oferecendo-lhe um contrato até 2019, com cláusula de rescisão de 30 milhões. O negócio inclui ainda a cedência ao clube minhoto por empréstimo, até ao final da época, dos dragões Sami, Ivo Rodrigues e Otávio. 
Ainda estou a pensar na cachupa de ontem. Não sei se o outro cliente precisava tanto do chouriço como eu, para também preparar uma receita especial. Mas eu não podia ceder. Que quando meto na cabeça que quero alguma coisa, seja porque quero mesmo ou seja por capricho, saiam da frente. E se o senhor que tinha reservado o chouriço e ficou sem ele por minha causa me estiver a ler, desculpe sim? A fome nem era assim tanta, mas assim que ouvi (os outros) falar daquele pitéu de Cabo Verde soube que tinha de o ter no meu prato. Foi assim um desejo de última hora. Quase me soube a pato. 



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Vou ao supermercado. Alguém quer alguma coisa antes que feche?

Molho de soja, cereais, salmão fumado, água, chocolate, bagas goji, gel duche, pasta dos dentes e acetona. Esta é a lista de compras que pretendo fazer esta noite, quando sair do trabalho. Espero que o supermercado não esteja cheio de gente, a competir com os carrinhos pelos corredores, tudo aos berros, a lutar pela melhor promoção e a discutir pelo último pack de qualquer coisa a um euro e com 50% de desconto em cartão. Que é mais ou menos o mesmo que acontece neste momento no mercado de transferências de Inverno, neste que é o último dia para os clubes (portugueses e de outros países) irem às compras.
A esta hora, diz que, entre os três grandes, Hany Mukhtar (Hertha Berlim), Jonathan Rodrígues e Elbio Alvárez (Peñarol) vão reforçar o Benfica, que o Ewerton (emprestado pelo Anzhi) vai para Alvalade, que o Hernâni vai do Vitória de Guimarães para o Porto e que também Anderson de Oliveira aterra no Dragão vindo do Brasil. Diz que. Mas, para já, e até fechar o mercado, é só 'diz que disse'. 
Vou indo antes que o salmão esgote, que aquilo é caro, mas sendo bom nunca há em quantidade. Com o resto da lista não me preocupo, porque compro quase tudo de marca branca. O que é nacional é muito jeitosinho, há - por norma - em maior quantidade e a melhor preço, e não é um grande rótulo que faz um grande produto. Fui. 


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Volta à Luz em Bicicleta

Sou alérgica a erros ortográficos e a pontapés na gramática. Receber uma mensagem escrita no telemóvel com atentados à Língua de Camões dá direito a um 'apagar' directo. E fico doida com desculpas como "ainda estava meio a dormir quando escrevi aquilo", "estava cheio de pressa", ou "estava distraído". Errado. Quem sabe escrever em bom Português nunca dá erros. Esteja a dormir, esteja sem tempo, esteja a fazer o pino, esteja debaixo de água. Não dá e p(r)onto final. 
Esta semana ficámos a saber que os professores - como humanos que são - também erram e que se fartaram de dar erros ortográficos na Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades que fizeram em Dezembro do ano passado. E quem (muito) provavelmente escreve como fala é o treinador do Benfica, que quase sempre transforma uma conferência de imprensa banal em curtas-metragens de comédia. Atenção: sou fã do Jorge Jesus, do comediante e do treinador! Como técnico tem tirado de letra os desafios que lhe têm aparecido pela frente ao longo da carreira, só que como orador atropela o dicionário e sai quase sempre fora do campo gramatical. Divirto-me imenso quando o ouço (independentemente do que diz ou de quem atinge), porque nota-se que Jesus acrAdita mesmo nas coisas que diz. É genuíno. Fala como sabe e não tem vergonha de o fazer.
Amanhã há jogo na Luz contra o Boavista e o treinador adversário de Jorge Jesus já avisou que o autocarro que o leva da cidade do Porto ao estádio do clube onde já foi campeão como jogador ficará estacionado à porta e não na baliza dos axadrezados. Petit mostra-se grande na humildade e sabe que a derrota do Benfica com o Paços de Ferreira em nada muda o facto de o actual líder do campeonato ser "um adversário muito difícil". 
Já Jorge Jesus acelera, como sempre, nas palavras e diz que "os outros é que têm de olhar de baixo para cima. É que andam atrás". "Isto é como no ciclismo, é etapa a etapa. Importa é continuarmos na frente", acrescenta o técnico benfiquista. Nunca achei piada ao ciclismo. Foram muitos os verões no Algarve em que apanhava os meus tios e primos vidrados na televisão a ver a Volta a Portugal passar. Eu cá preferia dar mergulhos na piscina a ver aqueles homens com calções mais justinhos que eu sei lá, a 'cheirar o rabo' uns aos outros, de tão colados que andavam ali, às voltas. "Futebol sim, isso é coisa de homem", pensava a menina antes de ser mulher. 
Com vantagem de seis pontos para o FC Porto - e não nove, como alguns, distraídos, escreveram ou disseram erradamente - Jorge Jesus recebe Petit de camisola amarela vestida e com boas vistas para a frente, sem ter que olhar para baixo nem para trás, que isso é coisa de (auto)carro-vassoura. E é pedalar certinho sem assobiar que isso também é coisa de Verão Azul (e não vermelho). Bom, que comece mas é rápido a bola a rolar (que hoje só há o Braga-Moreirense) e desta vez prometo assistir à 'volta' na televisão. Quanto mais não seja às voltas que a chicla do Jesus dá em 90 minutos. E que ganhe o que der menos erros técnicos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sérgio Oliveira: o lenhador sexy que cortou 3 pontos ao Benfica


Eles andam por todo o lado. Barba de três dias, cabelo cuidadosamente despenteado, ar de bad boy. E elas andam loucas com o novo estilo 'lumbersexual', palavra que nasce da combinação de lumberjack (lenhador, em Inglês) com o desejo sexual que estes homens de estilo selvagem e força bruta despertam entre as mulheres.
Se no domingo o FC Porto foi humilhado na Madeira, ontem à noite em Paços de Ferreira, Capital do Móvel, o Benfica entrou pela madeira dentro e perdeu a oportunidade de aumentar para nove pontos a distância para os azuis e brancos. Na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Paços, Jorge Jesus até disse que na segunda volta do campeonato o Benfica "é sempre melhor" que na primeira, mas, sejamos sinceros, a perda dos três pontos para os castores não passava na cabeça do treinador benfiquista (que de vez em quando também lá faz o farandol para realçar as madeixas, embora  esta moda - inexplicavelmente e ao contrário da outra - ainda não tenha pegado).
Sérgio Oliveira é o homem do momento. Formado no FC Porto, ontem à noite, e apesar das baixas temperaturas no Norte do país,  nem sequer precisou vestir uma camisa de flanela aos quadrados (também imagem de marca do estilo 'lumbersexual') para cortar a vitória ao Benfica. Portista assumido, o lenhador sexy do Paços mostrou que é um jovem de barba rija e ajudou o clube do coração a continuar a acreditar na luta pelo título, piscando já o olho a um regresso ao Dragão. E, se continuar a rachar lenha assim, às tantas merece mesmo ir espalhar brasas para outro lado, seja para o Porto (o que já parece estar certo no final da temporada), seja para outro clube qualquer. Agradece o futebol e agradecem as adeptas do estilo 'lumbersexual'. Mas isto sou eu a deitar lenha na fogueira...

domingo, 25 de janeiro de 2015

Quando a vida mostra vermelho directo



Numa hora estou a fazer as malas para Madrid, a combinar os últimos pormenores com os amigos para aquela que prometia ser uma passagem de ano de arromba. Tudo pronto para levantar voo. Pouco depois toca o telefone e dizem-me, do lado de lá, que o meu Pai "teve um acidente no trabalho", que caiu do alto dos seus quase dois metros e que não tem reacção. Entro no carro e conduzo ainda mais depressa do que num dia normal. Não me lembro do que vi durante o percurso, porque na realidade não via nada. Só me lembro de colar a mão na buzina, do barulho dos quatro piscas, da minha respiração ofegante, de quebrar todas as regras de trânsito, ultrapassando pela esquerda e pela direita. Estacionei o carro onde deu, corri desalmadamente até à Urgência. Pelo caminho torci um pé - que ainda hoje dói - mas continuei. Cheguei ao mesmo tempo que a ambulância. Foi o pior dia da minha vida. O dia em que realmente percebi que os Grandes também caem. Do nada. Sem aviso. E a vida não nos prepara para estes dias. Ninguém na escola nos ensina como lidar com esta dor, com a impotência de ver um ídolo deitado no chão.
Faz hoje 11 anos que Miklos Fehér, o então menino bonito da Luz, caiu no relvado do Vitória de Guimarães, na sequência de uma paragem cardíaca. "Ninguém esquece aquele momento, um cartão amarelo do árbitro, a seguir um sorriso completado com uma mão a soltar o cabelo, o inclinar com as mãos sobre os joelhos e o cair inanimado", recorda hoje o site oficial do Benfica, numa homenagem ao avançado húngaro que fez no Estádio D. Afonso Henriques a sua despedida do futebol e da vida. 
O Miki partiu cedo demais. Aos 24 anos a vida ainda vai na primeira parte e ninguém espera levar cartão vermelho directo, sem sequer ter direito a jogar o segundo tempo. O número 29 dos encarnados morreu a sorrir, enquanto o futebol chorava. E naquele dia em que o coração do jogador parou, também os adeptos perceberam - como eu - que os Grandes também caem. Felizmente, o meu Pai 'só' levou cartão amarelo da vida. Mas neste campeonato somos todos iguais. Seja Fehér, seja Ronaldo, seja Messi, seja do Benfica, seja do Porto, seja do Sporting. Seja o melhor do mundo, seja o pior. Quando é para cair, não há estatuto de estrela que evite a falta e a saída em maca. Há quatro anos que sorrio ainda mais, mesmo quando o destino entra a pés juntos ou quando me anulam um golo limpinho, limpinho. Oxalá ainda estejas a sorrir, Miki. Estejas onde estiveres. Hoje sorrio (também) por ti. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Quem ama nunca esquece

O verdadeiro amor deixa marcas. Na cabeça, no corpo, na alma, no coração. Porque o timing não era o ideal, porque a cabeça não quis ou porque a vida não deixou, já todos deixámos escapar aquele que, se calhar, era 'o tal'. Mas mesmo que a vida continue - e que outras paixões (e amores) nos arrebatem - as memórias não perdoam e o sentimento acorda sempre que o voltamos a ver, ou que ouvimos falar dele. O verdadeiro amor não acaba. Quanto muito adormece. 
O amor anda (outra vez) no ar no Porto desde quarta-feira à noite. Depois de um jogo polémico em Braga, não se fala de outra coisa no café, no quiosque da esquina, na paragem do autocarro, na fila no supermercado, no treino no Olival. Dizem que "o Porto voltou", que "o monstro acordou", que a equipa (e os adeptos) está mais unida que nunca. Numa noite marcada pelas expulsões de Reyes e Evandro e do dirigente portista Antero Henrique, pelas defesas de outro mundo do 'velho' Helton e pela entrada a pés juntos do presidente Pinto da Costa na flash interview, numa noite em que o empate frente aos Guerreiros do Minho foi o que menos importou, nessa noite quem venceu foi o amor. Porque o ódio e a revolta dos azuis e brancos perante o que sentiram ser uma arbitragem injusta e prejudicial fizeram acordar um amor que andava adormecido. Acordou o presidente do clube, acordou a equipa, acordaram os adeptos - que até foram esperar os jogadores ao Dragão, mesmo que o jogo tenha sido a contar para a Taça da Liga. 
O FC Porto andava com o coração partido. O sentimento estava lá, mas poucos pareciam importar-se se havia romance. A raça portista voltou, a equipa foi buscar a mística à gaveta das recordações e os adeptos mandaram mensagem a dizer "Tinha saudades tuas". E para eles "o campeão voltou". E veio tudo outra vez à cabeça: os momentos bons, os momentos muito bons, os momentos inesquecíveis. O bom do mau é que nos recorda o que é (ou já foi) incrível. E quem ama nunca esquece. Adormece. Mas nunca esquece. É sexta-feira e a noite convida à brincadeira. Mas os portistas querem é ficar em conchinha na cama, no quentinho, à luz das velas, depois de terem feito as pazes com o amor de sempre e de antigamente. Pelo menos até chegarem à Madeira. 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Marco tem dois amores, o Julen só quer montar um de cada vez

Marco Paulo, o homem que tem um grande (e maravilhoso) coração, completa hoje 70 anos de vida. Mais caracol menos caracol, o cantor popular lá se vai aguentando, com uma loira e outra morena, e sempre com sucesso na venda de discos. Na verdade, confessa agora, a música "Eu tenho dois amores", o grande hit da sua carreira, nem é dos seus temas preferidos, por ser "repetitiva". Mas como em equipa que ganha não se mexe, o Marco lá vai cantando sempre o que o povo pede, ano após ano, nos seus espectáculos.
Já Julen Lopetegui é homem de um amor só. Um de cada vez. "Se tentas montar dois cavalos de uma vez, cais", disse o treinador portista a propósito de ter deixado vários dos habituais titulares de fora do jogo desta noite em Braga, a contar para a Taça da Liga. "Cada coisa em seu momento", remata o treinador do FC Porto, sem taras nem manias. Em equipa que ganha (ao Penafiel) Julen mexe e remexe, chamando hoje para a Pedreira os 'bês' Gonçalo Paciência, Kayembe e Víctor Garcia. Imagino que o técnico espanhol prefira o Enrique Iglesias ao Marco Paulo. E lá vai 'bailando', de noches locas em noches locas, a gerir o plantel, porque o amor dele é só um e hoje é (diz Lopetegui) para jogar a trote. No campeonato é a galope e, à distância de seis pontos para o Benfica, o treinador portista não pode tirar o cavalinho da chuva. 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Domingos ainda não encontrou um lugar ao sol



















A chuva hoje deu tréguas, pelo menos no Porto, apesar de 19 de Janeiro ser o dia mais infeliz do ano, segundo um especialista da Universidade de Cardiff. A segunda-feira acordou com sol, mas para Domingos este é (mais) um dia cinzento, e de facto muito infeliz, depois de ontem ter sido afastado do comando técnico do Vitória de Setúbal. Onze derrotas em 17 jornadas ditaram o destino do agora ex-treinador da equipa sadina. 
Sempre fui fã do Domingos, na versão jogador. Mesmo quando era incompreendido e aguardava no banco a chamada para entrar em campo e fazer o que melhor fazia: golos. Muitas vezes rotulado de 'brinca na areia', Paciência não ia abaixo com as críticas e era vê-lo, de corpo franzino, a brincar na área adversária e a meter a bola no fundo da baliza. Gooooooo-loooooooooo. Ainda o estou a ver de indicador espetado no ar, junto à bandeirola de canto, a festejar.  E poucos minutos em campo bastavam para ser considerado o homem do jogo e  levar para casa (mais do que) um black&decker que, nos tempos do jogador no Porto, uma estação de rádio oferecia.
Em 1997, estava a passar férias em Tenerife no dia em que o homem-golo chegou para jogar pelos espanhóis, na primeira e única vez que vestiu a camisola de outro clube que não a dos dragões, ao longo da carreira de jogador (sem contar com a do Leça). Fui ao estádio esperar o craque, num dia quente, escaldante. Mas não foi calorosa a experiência do leceiro na equipa do Tenerife. Nem têm sido muito solarengos os dias de Domingos como treinador, nem em Portugal nem além-fronteiras. Bola pra frente, Domingos. Paciência nunca te faltou e um dia o sol volta a brilhar para ti. Eu acredito. 

sábado, 17 de janeiro de 2015

Benfica até atrás das grades


Um homem pode perder tudo. A mulher, a casa, o carro, a playstation, uma grade de minis, a liberdade. Só não pode é perder o direito de demonstrar o seu amor por um clube de futebol. Isso é que não! Escreve o Expresso que a cadeia de Évora quer proibir José Sócrates de ter na cela o cachecol do Benfica que o amigo Barbas lhe foi levar. Culpado ou inocente dos crimes de que é acusado, o antigo primeiro-ministro quer continuar a torcer pelo actual líder do campeonato e continuar a 'ser benfiquista', mesmo que veja o sol aos quadradinhos e que o 'Inferno' agora seja outro. E não me parece que o Zé se vá enforcar com o cachecol, já que é "de um clube lutador, que na luta com fervor nunca encontrou rival neste nosso Portugal", como diz o hino dos encarnados. Culpado ou inocente - repito - o ex-líder do Governo não quer abdicar do cachecol do Glorioso e promete lutar por ele, através do advogado. 
Tirem-lhe a água quente do duche, o cozido à portuguesa, o jogging, os livros de filosofia, o edredão. Porreiro, pá! Mas, por amor ao Eusébio, não tirem o cachecol do Benfas ao recluso número 44. O homem já perdeu tudo - o poder na política, a casa em Paris, o motorista, a conta bancária, o apoio do partido - não pode perder a única coisa que o faz lembrar o que é estar lá em cima, no poleiro. Cantam os No Name Boys: "Benfica, eu sou do coração, Benfica até debaixo d'água". Canta agora José Sócrates: "Benfica, até atrás das grades". Deixem cantar o Zé...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Espaço Karago

Mais de 81% das portuguesas tem uma imaginação muito fértil, diz um estudo divulgado esta semana pelo Victoria Milan, o site de relacionamentos para pessoas casadas ou comprometidas que andam à procura de um caso. Trair o marido ou o namorado com um colega de trabalho ou com o patrão lidera a lista das cinco maiores fantasias das 2.157 utilizadoras daquele site inquiridas no estudo. Cometer adultério com o ex-namorado, com o vizinho, com um amigo do actual companheiro e com o professor de yoga, respectivamente, completam o resto do top dos desejos das portuguesas que querem dar bola a outro. "Ao observarmos o lado maroto das mulheres portuguesas, apercebemo-nos de que os colegas de trabalho/patrões, ex-namorados e vizinhos são as figuras do dia-a-dia mais fantasiadas. Não só é normal, como também saudável explorar esses desejos", afirma Sigurd Vedal, fundador do Victoria Milan. 
E por falar em traições, sinto-me enganada pelo Kelvin, o puto que roubou o título nacional de 2012/2013 ao Benfica no Dragão. O herói do minuto 92 (que na realidade foi 90+1) prometeu, prometeu e pouco mais fez que aquele golo na penúltima jornada do campeonato, que elevou o brasileiro de 21 anos a Deus quando ajoelhou Jesus. Confesso que, tal como as adúlteras do Victoria Milan, fantasiei com mais magia do extremo portista. Mas às vezes as fantasias não passam disso mesmo, de uma ficção que não chega a ser real. Na minha cabeça, o Kelvin fintou e driblou meio mundo, sentou mais jogadores (para não ser só treinadores), fez golos orgásmicos e levantou a crista aos adversários sem ser a que usa como penteado. Só que não. O (bem) feito no clássico ainda valeu a Kelvin um espaço de honra no museu portista, o Espaço K, mas nem a inscrição na história do clube inspirou o jogador para mais brincadeiras que pudessem satisfazer os adeptos do Porto e levar os dos adversários a fantasiar com ele. Kelvin está agora de regresso ao Brasil, emprestado ao Palmeiras, mas antes de partir renovou até 2018 com o Porto. Karago, Kelvin! Explodiste cedo demais e depois desleixaste-te, como os maridos das outras. Vê lá se vens melhor da próxima vez. 







terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Goucha 1 - 0 Messi

Lionel Messi foi a grande desilusão da gala de ontem em Zurique. Que o argentino perdia a Bola de Ouro para Cristiano Ronaldo era previsível, mas imprevisível foi ter aparecido com um fato cor-de-vinho sem graça, à semelhança do ano desportivo que teve em 2014. Se em galas passadas o pequeno grande jogador encantou o mundo com um irreverente smoking vermelho e um divertido fato preto às bolinhas brancas cujo modelo copiou de Manuel Luís Goucha, ontem desiludiu e perdeu, também aqui, no duelo com Cristiano Ronaldo, que deslumbrou num look irrepreensível de uma marca made in Portugal.
Já o apresentador português nunca desilude na escolha da indumentária e mostra hoje a Messi como se faz, com um visual arrojado e alegre como sempre. Como se já não bastasse ao jogador do Barcelona ter sido avisado publicamente por Ronaldo - olhos nos olhos - que a próxima Bola também será para o português. Isto com um estrondoso grito de guerra que assustou o argentino e ainda hoje ecoa nos ouvidos do mundo. Cristiano abriu as goelas e mostrou uma vez mais que as tem no sítio. Às três bolas de ouro que agora tem no museu e cuja colecção promete aumentar. E ninguém duvida, porque com o madeirense é tudo à grande, como ficou comprovado a bronze na sua estátua de 3,40 metros de altura e muita largura no 'equipamento'. Parabéns, Cristiano.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Domingo: Futebol e Casa dos Segredos

À hora a que começo a escrever joga-se o Braga-Sporting. Intervalo. Domingo é e sempre foi para mim sinónimo de futebol. Era dia de ir ver o Coimbrões com o meu pai sentada naquelas frias bancadas de cimento, com o meu casaco de peles de princesa, e de ainda não perceber que os nomes que chamavam ao árbitro não eram os de baptismo. Era dia de me deixarem à porta do velhinho Estádio das Antas e de ir ver os jogos sozinha quando mais ninguém queria ir, fizesse sol ou chuva (e ainda hoje grito 'É sentar, já não chove' quando alguém me está a bloquear a vista). Domingo continua a ser dia de futebol, embora já nem sempre seja dia dos três grandes entrarem em campo (Benfica e Porto jogaram ontem). Domingo é (era) dia de ir à missa de manhã e ver futebol à tarde - ou de ouvir, para aqueles que estacionam o carro em frente ao mar e acompanham o relato enquanto elas fazem malha. Com ou sem jogos grandes, lá vai havendo futebol, no estádio ou na televisão, seja a liga dos primeiros seja a dos últimos, seja cá de dentro seja lá de fora.
Ao domingo o futebol era rei. Era. Porque agora domingo é também sinónimo de Casa dos Segredos. Quem quer tema de conversa à segunda-feira - no trabalho, no café, nas redes sociais - tem de ver a Casa dos Segredos ao domingo à noite. Tudo bem que já não há grande paciência para o desfile de trocadilhos falhados (e repetidos) da Teresa Guilherme. Mas o resto é incrível. É Portugal sem filtro, para o bem e para o mal. E enquanto vemos o tipo de Rio Tinto (mas que é mouro e não é Super Dragão) a 'ser duro' com quatro mulheres na mesma casa, a fulana que diz coleccionar jogadores de futebol de várias selecções, a estrangeira que não come papa de cantina e a coitadinha que não faz mal a uma mosca mas que afinal é uma grande safadinha, vemos a vida como ela é. Rimos e choramos com o resultado. Na Casa dos Segredos, como no futebol, nem sempre ganha o nosso preferido. E podemos barafustar à vontade que depois da Voz e o árbitro acabarem o jogo já não há nada a fazer. Vai-se a ver e futebol e Casa dos Segredos é a mesma coisa: andam uns atrás dos outros a jogar, insultam-se, fazem marcações em cima, dão canal e no fim ganha o melhor ou quem a produção deixar.
A esta hora já o Sporting saiu de Braga com mais três pontos, com um golo nos descontos. Futebol: check! Tanaka(ra) que o resto do domingo é para sentar no lugar cativo do sofá a ver o prolongamento da Casa dos Segredos: o Desafio Final. Há uns dias um amigo dizia-me: "Ai Raquel, não consigo entender como é que uma mulher inteligente como tu consegue perder tempo a ver aquilo!". Para poder criticar, é preciso ver (e agora lembrei-me do adepto que dizia numa entrevista "É preciso ver...ver! As banheiras não é do Estádio do Dragão, é do Estádio da Luz e eles coiso...mergulham"). Mas não te preocupes, Mike. O futebol enche-me mais as medidas do que os peitos (muito) insuflados das concorrentes daquele programa enchem o ecrã. A Casa dos Segredos é uma curte para passar o tempo, é uma aventura. Futebol é amor, é para sempre.