Não tenho namorado. Hoje, não tenho namorado. Hoje, não vou desfilar no shopping de mãos dadas. Hoje, não vou publicar fotos do almoço ou do jantar romântico do Dia dos Namorados nas redes sociais. Hoje, não vou alinhar na histeria do 50 Sombras de Grey. Hoje, não vou fingir que o amor é fácil e que todos os dias são incríveis. Hoje, não vou comprar uma prenda estupidamente cara para mostrar à minha cara-metade (e ao mundo) o quanto gosto dela.
Não me interpretem mal: sou pelo amor! Mas para mim o amor está nos restantes dias do ano. Está em cada vez que corro junto ao mar e sinto o vento frio na cara. Está em cada vez que um desconhecido sorri para mim, no trânsito, quando me vê a cantar (e a fazer coreografias) ao volante. Está em todas as vezes que ouço alguém dizer-me "gosto muito de ti". Está em cada vez que grito 'golo' tão alto e com tanta força que fico rouca. Está em cada vez que choro de felicidade. Está em cada vez que revejo o Top Gun, pela enésima vez. Para mim, o amor está em minha casa, quando, todas as noites, vejo os meus pais - casados há 40 anos - adormecerem abraçados.
Na vida e no amor, reconheço as vitórias porque já sofri (com as) derrotas. Quem diz que nunca sofreu por amor ou é mentiroso ou é parvo. Quem diz que nunca sofreu por amor é certinho que nunca amou. E - que me perdoe Camões - amor é fogo que quando arde, vê-se; é uma ferida que dói e que se sente. Ainda não sei o que é o amor de mãe. Mas sei bem o que é o amor de filha e de irmã. E sei que, por eles, tiro a minha camisola. Pelo Alexandre, pela Lucinda e pela Cláudia viro-me do avesso e faço o que posso e o que não devo. Quebro regras, ultrapasso pela direita, não dou pisca nem peço licença para passar à frente. Discuto, berro, digo o que quero e o que penso, muitas vezes consciente de que entro ainda mais de carrinho do que o Paulinho Santos entrava em campo. Para mim, amar é ser verdadeiro. Dói e sente-se, Camões. O resto é fogo de vista, é um passatempo (alguns duram até uma vida inteira), é esperar que a nossa chamada seja "atendida tão breve quanto possível". E quem, antes de morrer, quiser dizer que viveu - que realmente viveu - mantém-se em linha e não desliga o telefone. Até alguém do lado de lá nos atender.
No amor e na guerra vale tudo. Diz o povo e diz o Luís Filipe Vieira, que não está para amar e arrasa Bruno de Carvalho cada vez que abre a boca. Para o presidente do Benfica não há cá Dia dos Namorados. O anti-amor dos dois clubes da Segunda Circular não é de hoje e, sejamos realistas, nunca terá fim. Vieira e Bruno não passeiam de mãos dadas no Colombo nem no Alvaláxia, um com a mão no bolso traseiro das calças do outro. Vieira e Bruno não trocam juras de amor eterno. Não mandam sms com '<3'. Não aparecem um à porta do outro, a meio da noite, só de gabardine e uma lingerie sexy. Vieira e Bruno não mandam flores um ao outro. Não dão beijos de língua, mas passam a vida no bate-boca. Trocam críticas, ofendem-se, metem o dedo na ferida, vão às pernas e querem lá saber da bola. É só jajão. E se não há respeito não é amor. Mas que ali há tesão, paixão, fogo, faísca...há!
Em campo ou fora dele, Benfica e Sporting querem - hoje e sempre - comer-se um ao outro (pardon my french). E se todos os clubes andassem enamorados uns pelos outros, não havia competição, só havia jogos amigáveis. O futebol (e tudo à volta) não precisa (nem deve) ser violento nem hardcore. Nem precisa ter very-lights a arder nas bancadas para mostrar que ferve. Mas um campeonato digno desse nome tem que suar a camisola, tem que dar pica e manter a chama acesa. A esta hora, repito, o Vieira e o Bruno não estão a fazer o amor. Nem estarão amanhã, nem depois. Há ódios que só se resolvem de uma maneira, num sítio. E não é nas primeiras páginas dos jornais ou no Facebook. Pelo menos hoje, nesta data especial, arranjem um quarto e façam as pazes.